Entendendo a Adolescência - Por que é tão difícil crescer?

                      "Entre a criança que se foi e o adulto que ainda não chegou, o espelho do adolescente é freqüentemente vazio" (Calligaris) 


A adolescência pode ser definida como uma das etapas do desenvolvimento humano que se caracteriza pelas mais complexas  alterações psíquicas e sociais, sendo estas  influenciadas pela época e  cultura onde estão inseridas.

Em meio a esse turbilhão de mudanças, o adolescente precisa encontrar uma nova visão do mundo e de si, em uma tentativa de redefinir seu caráter social, sexual, ideológico e profissional.

Nesse difícil processo de adolescer, que varia aproximadamente entre  11 e 20 anos, há o surgimento de uma nova identidade e a descoberta da sexualidade - na qual o adolescente investe toda a sua energia.

Puberdade e Adolescência

A puberdade é caracterizada por processos biológicos e mudanças físicas, em sua maioria, muito perceptíveis - como, por exemplo, o crescimento de pêlos pubianos e a chegada da menstruação. O início dessa fase coincide, normalmente, com os primeiros anos da adolescência.   De acordo com Fagundes (2003), com todo esse amadurecimento fisiológico, intensifica-se também o impulso sexual, e o contato com o corpo adquire um caráter exploratório, de descoberta de novas sensações pela erotização genital. 

Frente a esse impulso, o adolescente inicia a busca por parceiros, deixando de lado os relacionamentos infantis. Começam, assim, os contatos superficiais, depois profundos e mais íntimos, que preenchem a vida sexual dos adolescentes.   

Uma nova identidade

As primeiras identificações feitas pelo ser humano são com as figuras parentais, freqüentemente, idealizadas como heróis. Entretanto, na adolescência, essas identificações deixam de exercer sua grande influência, pois o sujeito passa a buscar uma nova identidade: já não é mais criança e ainda não comporta ser adulto.

Essa busca, normalmente, gera um progressivo afastamento dos pais.  Porém, não é o distanciamento dessas figuras que o adolescente deseja, e, sim, desvincular-se do seu papel de criança.  O sujeito passa pelo processo de luto pelo seu corpo de criança e aspectos infantis perdidos. Frente a isso, vê-se obrigado a reformular todos os conceitos que até então tinha de si, ao mesmo tempo em que se projeta para a vida adulta, ainda desconhecida.

Crises e Angústias

Nessa tentativa de se encontrar, a oscilação entre enormes urgências e postergações, aparentemente ilógicas, aparece de forma marcante.  O adolescente se encontra perdido nas referências de tempo - a infância do passado e a vida adulta do futuro – o que gera grande angústia.

As flutuações de humor também são outro traço típico dessa fase, conseqüências das variações hormonais e da ansiedade gerada pelas inúmeras experiências e descobertas que o adolescente passa a vivenciar com intensidade.

Conflitos x Amadurecimento

Com o amadurecimento fisiológico, há um significativo ganho psíquico e intelectual, e, conseqüentemente, uma inflação egóica - crê que sabe e pode tudo. Diante desse pensamento, o adolescente normalmente se rebela e elabora seu próprio conjunto de valores e regras, muitas vezes opostos aos considerados corretos até então.  As referências de autoridade e normas sociais são, assim, questionadas e se alteram freqüentemente. Entretanto, o adolescente não é totalmente avesso a qualquer autoridade. Quando a reconhece nas pessoas de seu interesse, ela pode influenciar de maneira importante sua forma de agir e pensar.  

Esses conflitos, entre as normas vigentes e sua nova visão de mundo, impelem, muitas vezes, o adolescente a recorrer a ambientes mais favoráveis. Insere-se em grupos que o aceitam e proporcionam segurança e estima pessoal, devido às identificações entre os seus integrantes. Pouco a pouco, porém, desvincula-se e assume sua própria identidade adulta.

Pais e seu papel na adolescência  

A adolescência não é marcada somente por crises, mal-estares e angústias. É a importante época de grandes descobertas e experiências, que definirão a identidade sexual, social, ideológica e profissional do sujeito na vida adulta.

A função dos pais no direcionamento dessas vivências e na determinação dos limites, ainda em construção nos filhos, é essencial.  Um adolescente sem limites pode se tornar um adulto com dificuldades em respeitar regras, assim como em entender a balança entre direitos e deveres em sociedade. Pode, também, não se sentir cuidado pelos pais, resultando em um adulto carente e com baixa auto-estima. Por outro lado, a inflexibilidade na prática da autoridade parental, com a imposição excessiva de normas - muitas vezes incompreensíveis para os adolescentes - pode contribuir para um indivíduo revoltado ou inseguro, com dificuldades em estabelecer os próprios limites.

Para que essa adolescência seja saudável, os pais devem, portanto, compreender, e aceitar, que suas funções na relação com os filhos sofrerão mudanças. Já não são mais suas únicas referências, e precisam, então, realizar o luto pela perda da dependência dos filhos, assim como aprender a lidar com o sentimento de rejeição e o vazio causados por ela.

(artigo escrito por Fernanda Abatepaulo Linhares Guimarães)


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