- Ser viciado em dietas e exercícios pode
representar algum problema psicológico ou mental?
Sim, o vício por si só, independentemente de seu objeto, já representa
algum tipo de distúrbio psicológico.
O vício em dietas e exercícios físicos pode sugerir, em
casos mais leves, o apego exagerado à imagem como forma de preenchimento, de
pertencimento e de realização pessoal. Em casos extremos, pode levar ao
desenvolvimento de transtornos psicológicos relacionados à imagem corporal. Os
mais conhecidos são: a vigorexia, transtorno no qual o sujeito possui uma
imagem distorcida de si e se vê muito abaixo do peso, embora seja, na maioria
das vezes, bastante musculoso; e a anorexia nervosa, transtorno no qual o
sujeito também possui uma imagem distorcida de si e se vê muito acima do peso,
embora tenha um índice de massa corporal bastante abaixo do considerado
saudável.
É importante frisar que esses são transtornos muito sérios e
que o número de casos relacionados à anorexia nervosa, por exemplo, vem
crescendo em todo o mundo, abrangendo inclusive casos de garotas com menos de
10 anos de idade. E, muitos desses casos acabam em morte.
É fundamental que o indivíduo que possua algum tipo de vício
procure um profissional especializado para fazer um acompanhamento psicológico e
possa, o mais breve possível, superar essa condição e tentar reduzir os danos
causados por essa dependência.
- Como devemos lidar com estas pessoas que só
conversam sobre corpo sarado e boa forma?
Uma forma de lidar com essas pessoas é tentar conscientizá-las
de que existem coisas que valem mais do que corpo sarado e boa forma - por
exemplo, deixando explícito, durante uma conversa, que não valorizamos a imagem
corporal acima de outras características do indivíduo, como, por exemplo, as
capacidades intelectuais e o equilíbrio emocional. Podemos esclarecer o fato de
que a imagem não é a responsável pelas realizações pessoais ligadas ao esforço,
como o desenvolvimento profissional, o estabelecimento de um ambiente familiar
saudável, enfim da busca de uma qualidade de vida que promova o bem-estar
verdadeiro.
Nos casos em que já se desenvolveu um transtorno psíquico
relacionado à imagem, somente isso pode não ser suficiente para evitar o
discurso de que é preciso ter um corpo perfeito. Se esse parecer o caso, é
importante sugerir que essas pessoas podem estar não só valorizando a
futilidade, mas sim precisando de ajuda para sair dessa situação de risco na qual
se encontram e que poderá trazer muitos
prejuízos emocionais.
- Na atualidade, por que as pessoas fazem
tantos sacrifícios em busca do corpo perfeito?
Vivemos
em uma sociedade onde o “ter” tem sido mais valorizado do que o “ser”. Ter o melhor carro, ter a maior casa, ter as
roupas mais caras, e assim por diante, se tornou mais importante do que ser uma
boa pessoa, ser um bom exemplo, ser alguém de caráter inquestionável e que atue
sobre valores morais, entre outros. A imagem corporal se transformou em um
produto que precisa não só ser oferecido às outras pessoas, mas, acima de tudo,
ser considerado melhor do que os dos outros indivíduos, para que esse sujeito,
considerado como tendo o “corpo perfeito”, se sinta destacado da multidão,
invejado e bem quisto – destaque e aceitação que requerem menos esforços do que
se empenhar em construir um relacionamento duradouro ou se dedicar
profundamente à profissão escolhida, por exemplo.
O
prejudicial dessa situação é o fato de que, além da possibilidade de
desenvolver um transtorno psicológico, o indivíduo poderá sofrer muito ao
perceber que não é possível manter o corpo considerado como perfeito durante
toda a sua vida, pois não é possível deter o envelhecimento e suas
consequências, como temos visto, por exemplo, nas inúmeras e infrutíferas tentativas
realizadas pelas “celebridades” de se manterem jovens e em boa forma, pelo uso,
ano após ano, de cirurgias plásticas que pretendem mascarar os efeitos naturais
do passar dos anos. É preciso, portanto,
valorizar outros aspectos menos voláteis da personalidade e que possam
preencher o vazio deixado pela perda da juventude para que se possa alcançar
uma vida plena.