Black Mirror: Virtualidade e Responsabilidade

O texto abaixo é um trecho do artigo contido no livro "ALÉM DA SINOPSE", escrito pelo Especialista em Sociologia e Educação Roberto Guimarães e por mim.



Para ler o texto completo, além de outros artigos como este, adquira o livro "ALÉM DA SINOPSE - A Arte imita a Vida", disponível no site Clube de Autores




AVISO: o texto abaixo contém SPOILERS.

O último episódio da segunda temporada da série Black Mirror, denominado Waldo Time, retrata a popularidade de um personagem criado por computação gráfica, o urso Waldo. Ele faz parte de um programa de televisão e entrevista convidados. Com sua maneira debochada e linguagem informal, deixa constrangido e sem respostas um de seus convidados, um político. O fato chama tanto a atenção que decidem lançar Waldo como candidato. A possibilidade de lançar um urso virtual às eleições é uma questão que merece atenção por si só e não está muito distante de nossa realidade política, que, por exemplo, já contou com animais em seus quadros de concorrentes. Mas o que nos interessa discutir é a relação de virtualidade e responsabilidade.


O indivíduo responsável por dar vida ao Waldo possui uma personalidade aparentemente bastante distinta da demonstrada por ser seu personagem; parece tímido e inseguro em alguns momentos e procura evitar o confronto. Por outro lado, em um debate com outros candidatos, o urso Waldo, ou, melhor, a imagem do urso em uma tela colocada no palco, insulta os oponentes sem receios. Neste caso, o personagem possibilitou ao criador manifestar comportamentos que aparentemente não condizem com sua identidade e que não teria coragem de expressar despido da identidade de urso.

O mesmo acontece frequentemente nas redes sociais virtuais: indivíduos agem na rede de maneiras inconsistentes com a forma de ser presencial. Isso acontece, entre outros motivos, porque a comunicação intermediada, seja por um computador ou por um smartphone, por exemplo, afasta as partes – o que favorece a despersonalização do outro – e oferece um terreno “seguro”. Algumas consequências potenciais nessa forma de se comunicar também acabam sendo vistas como distantes. Se eu xingo alguém que está à minha frente, posso esperar ser agredido em retorno, mas se o faço com alguém “virtual” e pouco perceptível aos meus sentidos, o temor diminui.