Superproteção Parental



(Entrevista feita comigo para a matéria publicada no Jornal O Vale, no caderno “Mais Educação”)   



1 - Quais são as atitudes que identificam um comportamento de super proteção por parte dos pais? 



    Algumas atitudes que poderiam identificar a super proteção parental são:

· preocupação excessiva de que os filhos se machuquem enquanto brincam;

·    atenção completamente direcionada ao que eles estão fazendo – poderíamos citar aqui os pais que vão andando atrás dos filhos pequenos com medo que eles caíam e se machuquem;

· excesso de ajuda a tudo o que os filhos queiram fazer - são pais que tentam resolver os “problemas” do filho, desde cortar seu bife por ele, abordar crianças brincando para perguntar se ele pode brincar também e até, em alguns casos, fazer a tarefa pelo filho porque ele não “sabe” fazer ou para que lhe sobre mais tempo para brincar;
·   medo constante de que algo ruim aconteça ao filho;
·  infantilização – pais que tratam os filhos como se fossem crianças pequenas mesmo estando crescidos, se referindo às coisas no diminutivo quando falam com eles, por exemplo;
·   pais que se gabam sobre os filhos serem “grudados” neles;
·  excesso de elogios, em uma tentativa de convencer o filho de que é o melhor em tudo que faz;
· e proibição da participação em atividades nas quais os pais não participarão – por exemplo, excursão da escola.
Enfim, todas as tentativas de evitar o crescimento e a independência dos filhos podem ser comportamentos de pais super protetores.  

2 - Como esse comportamento pode influenciar na vida da criança e em seu desenvolvimento?


   Crianças superprotegidas são normalmente inseguras, dependentes, e se sentem inferiores, pois acham que não conseguem fazer nada sozinhas. Não aprendem a fazer as coisas por si só, já que os pais tendem a fazer tudo por elas. Com isso, quando se deparam com dificuldades, não sabem como agir para resolvê-las. Além disso, elas necessitam ter a aprovação de alguém naquilo que fazem para que se sintam valorizadas, e sentem enorme dificuldade em tomar a iniciativa em atividades – isso pode se estender desde brincadeiras, enquanto crianças, até em atitudes no ambiente de trabalho, na vida adulta. Muitas têm dificuldade em se relacionar socialmente. Em alguns casos, há um distanciamento da realidade social e a criança, ou o adolescente, se refugia em atividades virtuais – computador, redes sociais, jogos de vídeo game. Assim, ao invés de encarar os relacionamentos reais, passam a relacionar-se apenas virtualmente. Esses comportamentos irão se estender para a vida adulta, e a criança mimada de hoje será o adulto individualista, egoísta e que não tolera frustração de amanhã. 

3 -  Conheço alguns pais que acham que o filho sempre está certo e quem está errada é a professora que deu nota baixa, a psicóloga que identificou um problema de comportamento, etc.. Isso é um exemplo de super proteção? Quanto esse comportamento é prejudicial tanto para pais quanto para filhos?  

  Sim, pode ser um exemplo de super proteção. Esse tipo de comportamento é completamente prejudicial, tanto para os filhos quanto para os pais. Os filhos sofrerão com insegurança, dependência e sentimento de inferioridade. Os pais super protetores também sofrerão as conseqüências desse comportamento, pois normalmente:
- Criam uma expectativa grande em relação aos filhos e por isso estão mais propensos a se decepcionarem e se sentirem desolados diante de algum erro ou comportamento inesperado do filho;
- Sentem culpa pelas falhas dos filhos, achando que poderiam ter sido melhores em sua educação;
- Ficam ansiosos o tempo todo, achando que algo ruim pode acontecer ao filho e que têm o dever de impedir tal situação.
- Criam um sentimento de dependência dos filhos e podem sofrer quando os filhos saem de casa, sensação conhecida como “Síndrome do Ninho Vazio”. Esta é marcada pelo sentimento de inutilidade e vazio que toma conta de pais e mães que constroem suas vidas em torno dos filhos e se sentem perdidos diante de sua ausência, como se não tivessem mais objetivos na vida.
 
4 - Você já chegou a identificar algumas vezes que o problema de um de seus pacientes estava justamente na super proteção dos pais? Como agir nessas horas?

   Sim. Quando isso acontece, é imprescindível encaminhar também os pais para psicoterapia. Assim, eles se sentirão mais aptos a lidar com esse sentimento de super proteção, e em aceitar que precisam deixá-lo de lado para que os filhos possam crescer, amadurecer e seguir com suas vidas. A psicoterapia dará o suporte necessário para que pais e filhos enfrentem melhor essa situação.

5 - De que forma a psicologia pode auxiliar esses pais?

   Durante a psicoterapia, os pais poderão descobrir quando e por que essa super proteção se iniciou. Poderão rever os pais que tiveram e os filhos que foram. Trabalharão questões como ansiedade, medo, culpa e as razões inconscientes da super proteção. Ao trabalharem esses aspectos com ajuda profissional, se sentirão mais seguros para, aos poucos, irem modificando essa característica super protetora. A Psicologia, portanto, possibilitará o reconhecimento por parte dos pais de que há algo a ser mudado, dando a eles as condições internas para que aceitem que não é possível ter controle da vida dos filhos, e possam distinguir super proteção de amor, carinho e cuidado. Assim eles poderão amar e proteger seus filhos sem sufocá-los.

6 - Você poderia citar 5 características de pais super protetores?

     Pais super protetores, em geral, tendem a ser inseguros, ansiosos e angustiados. Têm baixa auto-estima e dificuldade de se afastar dos filhos. Falta-lhes auto-confiança. Eles têm medo de que algo de ruim aconteça a seus filhos por culpa de alguma falha sua, e também do julgamento que possa ser feito a seu respeito, caso isso ocorra.

7  - As férias escolares são uma boa época para os pais trabalharem a questão da super proteção? 
 
    Períodos em que os filhos passam mais tempo perto dos pais são ótimos para que estes trabalhem a questão da super proteção. As férias são um exemplo disso, já que pais e filhos tendem a desfrutar mais da companhia um do outro, e, nesses momentos de maior convivência, certos comportamentos vêm à tona, sendo a super proteção um deles.